Pedintes, camelôs e pobreza: nada disso é o que mais impressiona no Soweto, bairro mais populoso de Johannesburgo - reconhecido no mundo como pobre e celeiro da resistência contra a racista política do Apartheid na África do Sul.
Igrejas de várias fés com seus pastores pregando sobre chão batido, churrascos (ou algo que valha), crianças brincando na rua: também nada disso choca - pelo menos a nós, brasileiros, infelizmente acostumados com cenas muito parecidas.
A visita ao Soweto não nos choca.
Primeiro é necessário dizer que Soweto não se trata de "favelão". Há sim zonas com barracos e casas de madeira - mas é a ínfima minoria. As casas de alvenaria são maioria. Maioria como são as garagens recheadas de carros. Maioria como são as antenas de TV por satélite espalhadas sobre os tetos das casas de alvenaria.

Barracos de zinco e madeira ao lado do Orlando Stadium em Soweto: minoria
A visita ao Soweto deixa claro, entretanto, algo que ainda é muito presente na África do Sul: a separação entre brancos e negros.
Um dia inteiro no Soweto, e os únicos brancos que eu vi foram os "turistas" ou "visitantes ocasionais", já que ontem houve uma partida de rúgbi (esporte "de branco") no Orlando Stadium.
Um dia inteiro no Soweto, e vi apenas um mulato. Um único.
Um dia inteiro no Soweto, e uma visita ao Memorial Hector Pietersen me fez mais uma vez ter medo do que o ser humano é capaz.
Entre fotos e informações históricas sobre as manifestações contra a política do apartheid, especialmente contra a regra imposta pelo governo branco de ensinar africâner (língua da minoria branca) às crianças negras em meados da década de 1970, uma declaração de um ministro ("arquiteto do apartheid") exposta letra por letra em uma das paredes me deixou pasma:
"As crianças negras precisam saber que a igualdade de direitos, como entendida pelos europeus, não é para elas." (Hendrik Frensch Verwoerd)
Foi em 1963. Ontem...
Aterrorizante.
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