sexta-feira, 5 de março de 2010

PEDAGOGIA DO OPRIMIDO – PAULO FREIRE 
Livro dedicado aos “esfarrapados do mundo”, mostra 
a opressão contida na sociedade e no universo educativo, em 
especial na educação/alfabetização de adultos. A opressão é 
apresentada como problema crônico social, visto que as 
camadas menos favorecidas são oprimidas e terminam por 
aceitar o que lhes é imposto, devido à falta de 
conscientização, sem buscar realmente a chamada
Pedagogia da Libertação. 
A libertação é um “parto” conforme afirma o autor, 
pois a superação da opressão exige o abandono da 
condição “servil”, que faz com que muitas pessoas simples 
apenas obedeçam a ordens, sem, contudo questionar ou lutar 
pela transformação da realidade, fato motivado 
especialmente pelo medo. 
A dicotomia encontrada neste universo vai justamente no 
despertar da conscientização, onde as realidades são, em 
sua essência, domesticadoras, ou seja, é cômodo para o 
opressor que o oprimido continue em sua condição de 
aceitação. Neste sentido o autor faz uso do pensamento de 
Marx quando se refere à relação dialética subjetividade- 
objetividade, o que implica a transformação no sentido 
amplo – teoria e prática, conscientizar para transformar, 
pois a opressão é uma forma sinistra de violência. Assim a 
Pedagogia do Oprimido busca a restauração, animando-se da 
generosidade autêntica, humanista e não “humanitarista”, 
pois se propõe à construção de sujeitos críticos, 
comprometidos com sua ação no mundo. 
A educação exerce papel fundamental no processo de 
libertação, pois é apresentada a concepção “bancária” como 
instrumento de opressão. Nesta visão o aluno é visto como 
sujeito que nada sabe, a educação é uma doação dos que 
julgam ter conhecimento. O professor, nesse 
processo, “deposita” o conteúdo na mente dos alunos, que a 
recebem como forma de armazenamento, o que constitui o que 
é chamado de alienação da ignorância, pois não há 
criatividade, nem tampouco transformação e saber, existindo 
aí a “cultura do silêncio”, isto porque o professor é o 
detentor da palavra, criando no aluno a condição de sujeito 
passivo que não participa do processo educativo. 
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, 
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, 
esta famosa frase pareceu, a princípio, ter um efeito 
bombástico entre os educadores porque denunciou toda 
opressão contida na educação, em especial na concepção 
bancária, que na sua essência torna possível a continuação 
da condição opressora. O grande destaque para a superação 
da situação é trabalhar a educação como prática de 
liberdade, ao contrário da forma “bancária” que é prática 
de dominação e produz o falso saber, ou seja, aquele 
incompleto ou sem senso crítico. Assim é apontada a 
educação problematizadora, onde a realidade é inserida no 
contexto educativo, sendo valorizado o diálogo, a reflexão 
e a criatividade, de modo a construir a libertação. 
O diálogo aparece no cenário como o grande 
incentivador da educação mais humana e até revolucionária. 
O educador antes “dono” da palavra passa a ouvir, pois “não 
é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no 
trabalho, na ação-reflexão”. Isto é justamente o que foi 
chamado de mediatização pelo mundo, espaço para a 
construção do profundo amor ao mundo e aos homens. Contudo 
é preciso que também haja humildade e fé nos homens. 
O diálogo começa na busca do conteúdo programático. 
Para o educador-educando, dialógico, problematizador o 
conteúdo não é uma doação ou uma imposição, mas a devolução 
organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles 
elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. É 
proposto que o conteúdo programático seja construído a 
partir de temas geradores, uma metodologia pautada no 
universo do educando que requer a investigação, “o pensar 
dos homens referido à realidade, seu atuar, sua práxis”, 
enfatizando-se o trabalho em equipe de forma 
interdisciplinar. Para a alfabetização (de adultos) o 
destaque é feito através de palavras geradoras, já que o 
objetivo é o letramento, porém de forma crítica e 
conscientizadora. 
A teoria antidialógica citada é a ideologia 
opressora, a manipulação das massas e da cultura através da 
comunicação, por isso a revolução deve acontecer através 
desta pelo diálogo das massas. Uma das principais 
características da ação antidialógica das lideranças é 
dividir para manter a opressão, o que cria o mito de que a 
opressão traz a harmonia. 
Em contrapartida, é mostrada a teoria da ação 
dialógica embasada na colaboração, organização e síntese 
cultural, combatendo a manipulação através da liderança 
revolucionária, tendo como compromisso a libertação das 
massas oprimidas que são vistas como “mortos em vida”, onde 
a vida é proibida de ser vida, isto devido às condições 
precárias em que vivem as massas populares, convivendo com 
injustiças, misérias e enfermidades, onde o regime as 
obriga a manter a condição de opressão. Neste cenário é 
necessário unir para libertar, conscientizando as pessoas 
da ideologia opressora, motivando-as a transformar as 
realidades a partir da união e da organização, instaurando 
o aprendizado da pronúncia do mundo, onde o povo diz sua 
palavra. Nesta teoria a organização não pode ser 
autoritária, deve ser aprendida por se tratar de um momento 
pedagógico em que a liderança e o povo fazem juntos o 
aprendizado, buscando instaurar a transformação da 
realidade que os mediatiza. 
O que fica evidente é que o opressor precisa de uma 
teoria para tornar possível a ação da opressão, deste modo 
o oprimido também precisa da teoria para sua ação de 
liberdade, que deve ser pautada principalmente na confiança 
no povo e na fé nos homens, para que assim “seja menos 
difícil amar”.

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