No Rio de Janeiro, três coisas são certas a cada ano: queima de fogos em Copacabana, mortes por deslizamento e o Carnaval. Este ano não poderia ser diferente. Áreas totalmente insalubres e inadequadas para moradia são ocupadas em proporções catastróficas. O povo necessita morar em qualquer lugar e a qualquer custo, o governo deixa como está para ver como é que fica. A tragédia do Rio parece anunciada. Lembro-me do noticiário da TV em que o apresentador dizia que, no Brasil, já deveriam existir alarmes para previsão de tragédias desse tipo, como existem em países onde as ameaças são os terremotos, por exemplo. Eu acho que além dos alarmes, deveriam haver vergonha na cara das autoridades, políticas sérias de remanejamento dessas populações para áreas mais adequadas, construção de conjuntos habitacionais para comportá-las, enfim, tirá-las da beira do abismo. É triste mais uma vez assistir a esse espetáculo trágico, no qual a desgraça alheia salta aos olhos e a dor é como se fosse em nós. Acredito que a sensibilidade inerente ao homem é que faz com que sintamos profundamente por aquelas pessoas. Cada lugar tem suas mazelas. Nossa cidade também tem as suas. Convivemos com áreas permanentemente alagadas, a baixadas, bolsões de miséria, violência desmedida, assaltos com reféns a cada dia. Sobrevivemos, assim como o povo do Rio de Janeiro, sob a égide de governantes corruptos, parlamentares canalhas, governadores e prefeitos demagogos, entre outros. Nossas tragédias são parecidas, mas as daquele povo doem demais na alma por poderem ter sido evitadas com ações simples. Mais de duzentas pessoas perderam a vida mais uma vez. Mais pessoas morrerão lá e aqui, até que se olhe para essas calamidades com mais sensibilidade, com sentimento de humanidade e de amor ao próximo. O Brasil está de luto pelo povo do Rio de Janeiro.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Aniversário de Belém
Belém fez ontem 395 anos e as festas se proliferaram pela cidade. Aniversários são sempre a mesma coisa: um monte de gente só lembra da gente nesse dia, nos outros, deixam-nos ao abandono. Com Belém não poderia deixar de ser assim. Os governantes se debulharam em homenagens, shows foram promovidos, bolos gigantescos foram cortados. O atual prefeito, a rigor, comportou-se como um filho desnaturado. Limitou-se a inaugurar umas obras maquiadas. Coisas da política. Uma coisa me chamou a atenção nesse aniversário de Belém: a hipocrisia daqueles que deveriam zelar para que essa senhora de 395 anos conservasse a beleza que sempre ostentou. Costuma-se mostrar os casarões do centro, os prédios da Belle Époque, os imponentes edifícios da Doca e Batista Campos, mas esquece-se de mostrar a realidade do povo que também faz parte desta cidade. As pessoas da periferia são esquecidas nessa festa. Não têm o que dar nem o que receber. São coadjuvantes da história que se faz a cada dia. Nunca são convidados a escrever o cotidiano de uma cidade que tem tudo para ser linda. Para os olhos de quem mora em outros lugares, Belém é a opulência do Ver-o-peso, a modernidade do Hangar e das Estação das Docas. Para eles, não existem Tapanã, Benguí, Terra Firme, Jurunas e Marambaia. Essas pessoas que ali habitam são mantidas na "cozinha" do salão de festas. Uma festa pobre, assim como é pobre o espírito daqueles que se acham no direito de excluir os filhos de Belém da vida desta cidade. Enfim, não temos o que comemorar. É só mais uma passagem de ano que se arrasta a passos lentos, trazendo até nós a melancolia do esquecimento.
Assinar:
Postagens (Atom)